sábado, 27 de junho de 2009

A Distrital na Luta Comunitária


Ato do dia 9, pela Campanha por nossa Lona Cultural.
Nós, moradores da região de Vila Maria, Manguinhos, Jacarezinho e entorno, lançamos publicamente no último sábado (9), a campanha pela lona suburbana, “Lona Cultural Alcione, a Marrom”, com apresentação de vários grupos artísticos de nossas comunidades. Essa luta que se iniciou publicamente agora, começou à cerca de 2 meses com um reduzido grupo de representantes destas comunidades, que imbuídos da disposição de pleitear uma lona para região, fizeram a solicitação através da associação de Vila Maria. Pois quando solicitamos a lona, o fizemos na certeza - e ainda pensamos assim - de que essa lona só seria bem vinda se fosse uma conquista deste fórum e de todos: cada um dos moradores, atores sociais, políticos e culturais de nossa região.

Achamos que essa luta tem como principal foco o desenvolvimento cultural de nossos atores, das nossas escolas de samba (de Jacarezinho e de Manguinhos), de nossos artistas e artesãos, bem como de nossos jovens, que não deveriam ser subempregados ou desempregados, párias sociais do ponto de vista da lógica de uma sociedade que economicamente exclui a maioria em benefício da minoria da população.

A construção cultural de um país, de um território e de uma região como é a nossa, é fruto de uma série de lutas sociais. No nosso caso, originalmente a luta pela moradia, que transformou uma região de mata das décadas de 20 e 30 em uma região que sofreu uma explosão populacional. O crescimento desordenado trouxe negros fugidos de senzalas e quilombos , retirantes nordestinos portugueses de origem humilde e outros tantos retirantes das mais diversas regiões de nosso país, a maioria motivada pela busca de emprego e melhores condições de vida. Hoje, ao longo dessa história, temos uma população formada por pessoas de diferentes origens que criaram as raízes de uma cultura popular, ao mesmo tempo em que temos as influências do que é atual. Exemplo disso, são os garotos que hoje cantam funk e hip-hop aqui em nossa comunidade, que aqui produzem cultura, sendo ouvidos e envolvidos culturalmente, mas que dificilmente terão chances de inclusão nas grandes rádios.

A luta por uma lona cultural com o nome de uma pessoa como a cantora Alcione sintetiza tudo isso. Retirante nordestina que chegou aqui para fazer carreira artística na década de 60, e que se transformou em um dos mais consagrados ícones da cultura nacional, nunca tendo esquecido da região da Mangueira (escola de samba co-irmã das nossas duas escolas em cores e história).

A exclusão da arte da elite dominante em nosso país tem todos os endereços certos. Os excluídos trazem esta marca em seus nomes, suas idades, seus endereços, e sua raça. Nós, moradores desta região, fazemos parte uma das estatísticas mais cruéis já vistas em nosso país. Aqui na nossa região, somos um grupo social composto por cerca de 200 mil pessoas, onde cerca de 80% está desempregada e fora do trabalho formal de carteira assinada. Apesar disso, não podemos deixar de comer, de nos vestir, e, principalmente, de produzir cultura. E é a partir dessa cultura, que nos situa no mundo e nos identifica, que queremos dialogar entre nós e para fora daqui. Nossa intenção é organizar nossos pensamentos em cultura e arte para desconstruir de alguma forma essa sociedade excludente e forjar uma sociedade de todos, com todos e para todos.

Essa é nossa luta! Uma luta que não termina em si, mas que traz no seu processo um princípio maior que se desenha nesta união e mobilização por uma qualidade de vida melhor para nós e para nossos filhos.

Assim, carregando a certeza da nossa verdade e dos nossos direitos enquanto cidadãos, é que damos início à nossa Campanha.

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